HOMOFOBIA #4

4.6.17


O post de hoje é continuidade do texto colaborativo com um velho amigo.

Por: Yureta (Yuri Sant’Anna da Silva)

Diante de situações de evidente violência como assassinatos, espancamentos, mortes, manifestações explícitas de grupos que pregam crimes de ódio, todo mundo se compadece e resolve aderir ao discurso anti-ALGBTfobia, mas quando nós, indivíduos marginalizados que compõem esta sopa de letrinhas, criticamos os constantes abusos incrustados em atitudes aparentemente simples e do dia a dia, somos alcunhados de vitimistas, exagerados, pós-modernos, "chatos que problematizam tudo". É preciso entender que essa barbárie preconceituosa é apenas o desdobramento físico da violência psicológica que tanto denunciamos e que constantemente é silenciada, menosprezada, escrachada sem dó nem piedade sob a égide do humor ou malabarismos teóricos quaisquer. A homofobia pode ser vista como aquela agressão verbal que visa depreciar um homossexual por ser homossexual, mas também é a segregação de espaços de poder, a invisibilização e descaso social. É macro e micro. Estrutural e individual. Acho super bacanaa boa intenção de quem se diz defensor das minorias, mas valorizaria mais fosse uma defesa menos hipócrita. 

Quantas vezes você ouviu calado aquele brother que fez chacota dos “viadinhos”ou dos “sapatões”na rua ou que chamou de boiola um colega no intuito de ofender? Você acha que a expressão pública de afeto entre duas pessoas do mesmo gênero é algo que fere sua moral ou a de suas crianças? Acha que sua sexualidade é tão frágil a ponto de tornar-se gay ao conviver com gays? Tem medo de socializar com homossexuais porque vão dizer que você também é homossexual e isso seria terrível para a sua imagem? Pensa que seu amigo gay é seu mascote que só serve pra te fazer rir ou falar de futilidades? Acha que pessoas trans são “gays que querem trocar de sexo, mas jamais conseguirão de verdade”? Diz que bissexualidade é fase, confusão ou que não existe? Segrega qualquer uma das classes supracitadas de maneira velada? Se alguma resposta foi positiva para essas questões, então você indiretamente contribui com o dispositivo de controle social e cultural que fomenta atentados como o de Orlando. E não é preciso ir muito longe para ver seus efeitos, basta um rolê pela orla de Salvador à noite para perceber qual é o nosso lugar e ao que temos que nos submeter por sermos quem somos. Dezenas de LGBTS morrem diariamente na nossa cidade e fechamos os olhos para isso. Centenas abandonam os estudos ou o próprio lar por não suportarem a pressão. Enquanto você ri de piada homofóbica tem gay sendo assassinado cruelmente nas esquinas. Por isso eu questiono o seu compadecimento recortado que só enxerga a perversidade hiperbolizada, mas nega que a barbaridade também se esconde em atitudes simples. Eu acredito na minha dor e nas dores de todos que hoje são sobreviventes, mas lamentavelmente podem possuir o mesmo destino que as vítimas da boate em orlando amanhã. Eu creio nas lágrimas de quem vai ser morto por mãos que se dizem santas ou justiceiras.

Precisamos respeitar as diferenças não porque são irrefragáveis e, por conseguinte, precisa-se aprender a conviver com elas, mas porque são LEGÍTIMAS e DIGNAS. Quando passarmos a enxergá-las como expressões naturais da vida que merecem tanto respeito quanto as mais frequentes, teremos boa parte dos problemas resolvidos. Se é de seu interesse combater o ódio contra classes, comece também a problematizar tudo o que o sustenta. Utilize mais o significado dessa palavrinha que está na moda agora, "empatia", para refletir dez vezes antes de pretender deslegitimar uma reivindicação por parecer bobagem aos seus olhos.Algumas dores apenas alguns podem sentir, outros apenas imaginar... E a imaginação, meu amor, é uma representação desmaiada e turva da realidade. A homofobia existe e ela está mais perto do que você imagina. Se você procurar com mais atenção, verá quantos atiradores em potencial nos cercam. Até quando? Até você nos ajudar a combater de fato o mal pela raiz: Destruindo-o de dentro de você. 

E enfim eu posso dizer que tudo foi concluido da melhor forma. Em breve um novo QS para vocês. Até mais! 
Att, Cíntia de Souza. 

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