O post de hoje é continuidade do texto colaborativo com um velho amigo.
Por: Yureta (Yuri Sant’Anna da Silva)
Diante de situações de
evidente violência como assassinatos, espancamentos, mortes, manifestações
explícitas de grupos que pregam crimes de ódio, todo mundo se compadece e
resolve aderir ao discurso anti-ALGBTfobia, mas quando nós, indivíduos
marginalizados que compõem esta sopa de letrinhas, criticamos os constantes
abusos incrustados em atitudes aparentemente simples e do dia a dia, somos
alcunhados de vitimistas, exagerados, pós-modernos, "chatos que
problematizam tudo". É preciso entender que essa barbárie preconceituosa é
apenas o desdobramento físico da violência psicológica que tanto denunciamos
e que constantemente é silenciada, menosprezada, escrachada sem dó nem piedade
sob a égide do humor ou malabarismos teóricos quaisquer. A homofobia pode ser
vista como aquela agressão verbal que visa depreciar um homossexual por ser
homossexual, mas também é a segregação de espaços de poder, a invisibilização e
descaso social. É macro e micro. Estrutural e individual. Acho super bacanaa
boa intenção de quem se diz defensor das minorias, mas valorizaria mais fosse uma
defesa menos hipócrita.
Quantas vezes você ouviu calado aquele brother que fez
chacota dos “viadinhos”ou dos “sapatões”na rua ou que chamou de boiola um
colega no intuito de ofender? Você acha que a expressão pública de afeto entre
duas pessoas do mesmo gênero é algo que fere sua moral ou a de suas crianças?
Acha que sua sexualidade é tão frágil a ponto de tornar-se gay ao conviver com
gays? Tem medo de socializar com homossexuais porque vão dizer que você também
é homossexual e isso seria terrível para a sua imagem? Pensa que seu amigo gay
é seu mascote que só serve pra te fazer rir ou falar de futilidades? Acha que
pessoas trans são “gays que querem trocar de sexo, mas jamais conseguirão de
verdade”? Diz que bissexualidade é fase, confusão ou que não existe? Segrega
qualquer uma das classes supracitadas de maneira velada? Se alguma resposta foi
positiva para essas questões, então você indiretamente contribui com o
dispositivo de controle social e cultural que fomenta atentados como o de
Orlando. E não é preciso ir muito longe para ver seus efeitos, basta um rolê
pela orla de Salvador à noite para perceber qual é o nosso lugar e ao que temos
que nos submeter por sermos quem somos. Dezenas de LGBTS morrem diariamente na
nossa cidade e fechamos os olhos para isso. Centenas abandonam os estudos ou o
próprio lar por não suportarem a pressão. Enquanto você ri de piada homofóbica
tem gay sendo assassinado cruelmente nas esquinas. Por isso eu questiono o seu
compadecimento recortado que só enxerga a perversidade hiperbolizada, mas nega
que a barbaridade também se esconde em atitudes simples. Eu acredito na minha
dor e nas dores de todos que hoje são sobreviventes, mas lamentavelmente podem
possuir o mesmo destino que as vítimas da boate em orlando amanhã. Eu creio nas
lágrimas de quem vai ser morto por mãos que se dizem santas ou justiceiras.
Precisamos respeitar
as diferenças não porque são irrefragáveis e, por conseguinte, precisa-se
aprender a conviver com elas, mas porque são LEGÍTIMAS e DIGNAS. Quando
passarmos a enxergá-las como expressões naturais da vida que merecem tanto
respeito quanto as mais frequentes, teremos boa parte dos problemas resolvidos.
Se é de seu interesse combater o ódio contra
classes, comece também a problematizar tudo o que o sustenta. Utilize mais o
significado dessa palavrinha que está na moda agora, "empatia", para
refletir dez vezes antes de pretender deslegitimar uma reivindicação por
parecer bobagem aos seus olhos.Algumas dores apenas alguns podem sentir, outros
apenas imaginar... E a imaginação, meu amor, é uma representação desmaiada e
turva da realidade. A homofobia
existe e ela está mais perto do que você imagina. Se você procurar com mais
atenção, verá quantos atiradores em potencial nos cercam. Até quando? Até você nos ajudar a combater de fato o mal pela raiz:
Destruindo-o de dentro de você.
E enfim eu posso dizer que tudo foi concluido da melhor forma. Em breve um novo QS para vocês. Até mais!
Att, Cíntia de Souza.